terça-feira, julho 8

A Perda e a Vida

O abandono criativo acontece de tempos em tempos para rebobinar o papel de parede antes de colar novamente, muitas vezes a cola sai sozinha com o tempo de uso. Um dia dia sem laços um dia sem vontade.
A vontade de ver as coisas pelo prisma alheio. Decerto quando escrevia sobre cinema pensava dias e noites em filmes do Truffalt. Mas não era bem assim, a provocação estava sempre sentada ao seu lado.

As amizades mexem com as pessoas, mudam a rota de colisão do caminhão velho fadado ao abandono e emprestam ao Carro Novo de giglê uma moda nova. Vintage ou retrô, qual é a diferença. Não existe moda pra mim.

Me percebi lembrando de fatos e fotos de uma época cheia de músicas e andanças pela rua, de cafés lotados, de poesia, de leituras. Uma época cara, rara. Peguei um romance para ler de um escritor curitibano e vi uma foto de uma fotógrafa underground backstage num blog e aprendi a usar o "dente azul". Ela me diz que sou moderna.

E o ovo azul, a pulga azul, a maldita pulga (referência anos 80 Tita).

Hoje descolo algumas camadas de lorota do meu " célebro" de papel de parede meio gasto, meio caro e meio raro.
Bem-vinda a anunciação de uma nova trip de emoções. Lembranças que venham, só as boas. Enterro o passado negro e me misturo mais feliz ao povo na rua e descubro um pano de prato limpo e o que vejo?

Bolo de fubá com café na mesa posta da sala de estar no canto do casario antigo. Velhas fotos roídas e aquele sorriso velho e murchinho ao meu lado.

Cheiro de leite fervido, chaleira apitando, lembranças de criança, de vestidos de xadrez e de fios amarrados nas portas, dentes a menos.

Minha avó, meu gato, meu passado.

Meus filhos poderão entender o chamado da "Perda"...

Perdi um amigo pro mundo e ganhei um novo hoje, só que o novo é velho, sempre estará lá e verá os tampos dos olhos descobrindo novas náuseas. Eu estarei por perto.

Bom envelhecer e brincar de ser grande e bom aprender a ler lábios e depois andar mais longe.


Beijos
Carne de Soja

Para minha vó amada e para minha amiga Tita

Um comentário:

as estrelas moram na escuridão disse...
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