quinta-feira, janeiro 10

Automatobiografia

Inspiração: Augusto dos Anjos e Charles Bukowski

Amadureci muito cedo e retardei muito tarde. Como um efeito borboleta Benjamin Button. Minha história foi de trás pra frente e no meio do caminho fiquei entre a força motriz e o samba de raiz. Hoje não escolheria certas cores tão fortes como o roxo e verde-limão ou também não engoliria tantos sapos ou baratas por tão pouca emoção. Meu medo é a paz demais. Minha busca é a paz frenética. Entre dentes de uma nascente cheia de céu da boca, adquiri o conhecimento mas faltou a constância.

E na estância dos fatos, jurei mais fotos, porém o estado laico de um rosto opaco me deixa sem sorrisos. Os dentes caem, os moles endurecem, o cabelo perde o viço. O tônus o vigor, o tonner acabou, a tinta desbotou, o ar ficou pesado e continuo cometendo os mesmos erros do passado.

Na jornada mascada de sorrisos e atitudes semi-mascaradas sobrevivi aos mais terríveis dilúvios.
As lágrimas jorravam, o gosto perdeu a doçura. Só sabe disso quem ainda me atura.
Nem só de lamento se mantém o tegumento. As plantas continuam a crescer mesmo com a dor da perda da flor, da prematura miséria e do insucesso insosso do ter.

Tenho nada e nada me têm, tenho 2 pares de coisas e infinitas curiosidades científicas.

No sobral, no pinheiral, a vontade de sempre ir, mudar, seguir. Um barco no oceano é a quantidade de tempo ano após ano. Mudamos a mentalidade dos precoces, dos atrozes e das bestas...

Nem fizemos tanto, passamos, passei, em poucas provas, em poucos testes e muitas provas na selva, quebrando galhos, escondendo-me em atalhos. Um pouco Bukowski demais e às vezes uma cozinheira normal ou até um autoritário capataz.

E assim vou levando, também esperando, também pensando mais e correndo menos, lutando mais. Se eu morrer quero um crematório e no máximo um oratório, uma lata vazia e as cinzas navegando no Rio Belém.









"Se eu nunca ver você de novo
Eu sempre vou levar você
dentro
fora
na ponta dos meus dedos
e nas bordas do meu cérebro
e em centros
centros
do que eu sou do
que restou."


Charles Bukowski