quarta-feira, abril 5

MEU TIO FRANK VEGAS

Ele era um senhor de meia idade chamado Frank Vegas. Estava dormindo à muitos anos sozinho numa cama fedendo esperma seco, com taças de vinho velhas, com restos de uma festa regada à mulheres, mas isso à muitos anos atrás. Hoje, o Senhor Frank Vegas transita entre seus dois apartamentos, transitava, ele tinha dois apartamentos, um de frente para o outro num edifício em frente ao minhocão. A fumaça de toda aquela porcaria de cidade grande, ônibus, tratores e cigarros entrava por um tubo na cozinha de uma pastelaria que também possuía um encanamento que ia direto para o olfato de Vegas. Tudo era sujo, os gatos tinham um pequeno vão para conseguirem sair e buscar comida quando os ratos acabavam, era um grande buraco de cupim na porta. Às vezes eu entrava sozinho no prédio para ver o Tio Vegas pelo buraco de cupins. Ele afiava uma grande navalha linda, passava sobre as pernas, arrancava uns pêlos da coxa, depois ele cuspia na navalha e recitava coisas. Eu olhava ele, pensava se ele se masturbava com a navalha sempre, porque a navalha de tio Vegas brilhava como prata de bala de revólver de cowboy. Tio Vegas era um canastrão de filmes de espionagem. Tio Vegas foi um gângster que usou chapéu Panamá nas praias do sul da França. Tio Vegan tinha gosto por filmes eróticos de 1974. Eu era pequeno e o via enfiando dedos sob as saias das minhas tias enquanto alisava a navalha no bolso da calça. Todas queriam os dedos gordos de Tio Vegas passando entre as pernas brancas e rechonchudas. Tio Vegas odiava essas mulheres, só as usava, só as queria à seus pés, porque os prazeres de Tio Vegas era ver mulheres em volta. Tio Vegas não queria elas pra vida toda porque Tio Vegas não era um homem normal. E porisso, ele, morreu sozinho naquele asilo cheio de dor e gente magra cuspindo em catarreiras. Quando suspeitei que estava morto, é simplesmente porque eu não tive mais notícias do meu irmão que ainda era única pessoa normal que ele gostava de ver. Normal picas, porque o meu irmão é um doente, uma pessoa freak como dizem. Engomado, todo certinho, mas bem que gostava de ir lá bater umas punhetas pro Tio Vegas. Que absurdo, sempre achei que o velho gostava de receber as visitinhas do meu irmão sozinho, porque na verdade ele surtava quando o bom moço ia embora. Entrava em pânico toda vez que eu ouvia do meu quarto pra ir visitar o tio Vegas. Aquele amontoado de lixo. Não me recordo mais da última vez que eu soube que limparam o quarto do Tio Fernando. Fernando? Me perdoem, mas eu achava que o nome verdadeiro do tio Vegas era Fernando. Será que o fato de um homem viver tanto tempo sozinho faz ele não conseguir amarrar os temas e criar uma lógica linear nos pensamentos? Aquele velho maluco do tio Tobias. Colecionava revistas de mulher pelada de todos os anos e países e décadas, histórias em quadrinhos de porcos atormentando macacos e crianças amordaçadas por trogloditas vietnamitas. Revistas de sexo grupal, revistas de homens, revistas de natureza bizarra, contendo cenas de sexo entre garotinhos nus e freiras gordas. Ele gostava de cachimbos e colecionava guardanapos sujos com batons de mulheres siamesas. Gostava de comer pé-de-galinha fritinho e colecionava unhas com esmalte roído. Ele costumava apresentar um desconforto quando alguém sugestionava algo, mas vivia em silêncio.Isso não importa mais. Ele está morto e no caminho do entulho eu continuo passando e redescobrindo armários e mais armários de histórias veladas. Ármarios, caixas e armas, facas, gumes e sensações de que meu tio era um homem muito bom, muito asséptico, mas isso à muitos anos atrás quando ele ainda podia escovar os bigodes e cheirar lavanda. Feche a boca pra falar de meu tio Vegas! Ele gostava de currar mulheres em cima do guarda-roupa. Outro dia sonhei com ele. Ele me levava pra cima do guarda-roupa e queria que eu guardasse uma embalagem fechada de Cheddar, queijo cheddar para mais tarde. Ele tinha manias estranhas. Eu, na verdade queria ser mulher e meu tio Vegas era só um velho beberrão que tinha sonhos com exportadores de queijo de Minas para fora do País. Em Gales consome-se nosso queijo for exportation, um queijo forte como o cheiro do esperma do Tio Vegas colado nos papéis de carta de menininhas juvenis que achei sob o travesseiro. Aquele cheiro de morando confunde-se com o queijo Cheddar de Tio Vegas. Mas Tio Cheddar não é um queijo lubrificante, Tio Vegas? Ele coçava o saco ao mencionar suas conquistas quando era mais limpo e seguro fazer isso à luz do dia. Tinha umas garotas que descruzavam as pernas e ele me olhando. Tio Vegas, Rodriguez, eu queria ver aquelas mulheres pelo quarto dele, pulando nuas nos guarda-roupas e socando meias no sofá...escondendo-se. Fede à urina de gato o apartamento de Tio Tobias, mas o IML achou melhor eu não ver o estado do corpo em adiantado estado de decomposição, pois só encontraram algo estranho duas ou mais semanas atrás. Tio Vegas detestava visitas e só permitia meu irmão que dizia ir ler a Bíblia para ele, em latim. Penso que eu não deveria mais trabalhar com tantos papéis e documentos, a fantasia de meu tio era juntar a maior quantidade de material erótico e estranho possível porque as pessoas precisam guardar tantos cabos de vassouras? Pode ser útil? Eu me lembro de uma garota, não é linda e fantástica como as mulheres que transitavam a mente de Tio Vegas, não é algo fora do comum, mas quando ela sorri eu ficava feliz e achava que a posição que ela sentava no ônibus era para sorrir para mim. Enganei-me. Ela estava mirando sua saia e suas pernas e sua ausência de calcinha para um moço sentado mais ao lado. Que engano foi aquilo, Tio Vegas! Bem que você questionava a saúde mental das mulheres. Eu só dizia, Ah! Mulheres! Seres das colônias. Tio Vegas passou a vida detestando mulheres e colecionando cabos de vassouras. Aquelas mulheres nojentas me dão dor de barriga, Tio Veda!
Espero um dia escrever pra alguma diretoria importante e convencer que Tio Veda não morreu em vão, mas sim, no vão das minhas loucuras e até hoje, lembro das camisas de listras que ele colecionava e depois me mandava. Ele achava-se estúpido por ainda não ter me decidido. eu queria somente alisar minhas próprias fronhas, ouvir discos de vinil e estudar numa faculdade. Herdei isso de ser assim, inconsciente...É uma substância que ainda deveria ter, cheiro de pó, de formigas quentes, de cheddar velho nos bolsos úmidos das calças de meu querido tio.
Me deixem por hoje só e eu vomitarei a verdade. Que Tio Cheddar nunca me amou e só queria alguns dias de paz antes de morrer. Esqueceu o gás ligado, com tantos aparelhos e móveis e caixas e cabos de vassoura. Ainda guardo que ele batia em mim com eles, aqueles circulos de pó sob as xícaras derramadas do leite que saía da boca de Tio Vegas antes dele morrer era seu próprio suco? Era a substância branca que sai da boca das formigas antes de serem esmagadas? Formigas, algumas que eu catei da coleção de coisas de gaveta do tio Vegas eram pretas e bundudas, negras e eslavas, Saracuras e tanajuras. Me sinto como uma lebre voltando pra casa, quero ser o coração dentro do pênis latejante deste homem? Esqueça, eu não suportaria mais amá-lo. ele me matou e deixou flores pra eu cravar na minha carne. Ele só assistia files pornôs alemães e gostava de ver um desenho do South Park onde o menino via os niilistas cagarem na boca da mãe do personagem e ria. ele se contundia ao pisar com suas botas Harleys gastas da juventude. Ele consumia baldes de pernas de frango e muito molho, muito molho de todos os tipos. eu não congigo juntar as coisas dele e não relembrar estes doces amargos. Vou andar pelos plátanos selvagens de um lugar cheio de mato e parar numa pedra para pensar mais sobre isso. Os sábios iam se esconder em cavernas e assim foi meu tio, construir sua própria montanha. Quem sabe um dia eu não seja tão austero e importante como foi meu tio? Ele me deixou de herança as lembranças de sua vida tão amarga, mas tão cheia de luxúria e alegria e aquele gosto pelo inevitável, pelo crepúsculo, pela liberdade de ser tão viril. Adeus, Tio Fernando. Por hoje, levo o gosto do seu cachimbo para meu criado-mudo.
Suzanne Vegas.

Conto para o Jornal Cornélio



Suzanne Vegas é sobrinha de Tio Vegas. Desenho por Tita Blister de Las Vegas.

(texto não-editado)


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