quinta-feira, janeiro 29

Texto sobre documentário do Titãs

O octeto de rock mais amado do Brasil sempre foi surpreendente pela trajetória construída ao longo de 20 anos de convivência. Durante o tempo sofreram várias metamorfoses, porém nunca perderam o caráter individualista na construção de melodias e letras sempre muito bem elaboradas. Conseguiram unir poesia e simplicidade. Falaram de ódio, amor, de coisas normais e anormais. Surtaram nos meandros do concreto, do básico e do punk. Voaram entre hemisférios distintos e a história foi-se lapidando a cada álbum. Alguns lendários, alguns mais discoteca básica, outros mais ligeiros, mais certeiros, mais abrasivos e contundentes. Titãs me lembra bandas como New York Dolls na Inglaterra e Ramones que tiveram uma ascensão ligeira aceita nas festas e rodas mais alternativas, tiveram influência da mídia, dos Beatles, dos Rolling Stones e da indústria fonográfica, mas principalmente sofreram a maior de todas as influências: a espontaneidade deles mesmos, a personalidade de cada um em cada composição, ora Bellot, ora Sérgio, ora Antunes. Dedicação total ao rock nunca deixando de lado a diversão, amizade e irmandade cega, além de toda a extroversão mesmo nos momentos mais sérios.

O documentário "Titãs, a vida até parece uma festa" é o resumo da Ópera Rock destes oito cavaleiros do apocalipse musical. Um documentário extremante bom, compilação dos melhores momentos on e off bastidores. Branco Mello em parceria com Oscar Rodrigues Alves fizeram uma esmerada pesquisa e resultou na fusão, talvez mais brilhante de um documentário de música divertido e instigante. E não poderia deixar de ser: autêntico. Consegue-se sentir São Paulo way of life na narrativa criada por Branco e Rodrigues através de uma compilação inédita para os padrões musicais da vide-arte musical. A iniciação pueril-tropicália do início da carreira, tais como: Os Mamões e as Mamonetes, onde Toni Belloto e Charles Gavin, dois moleques mirrados se jogam pela primeira vez num programa de calouros tipo B onde um dos personagens nada mais é que Wilson Simonal como jurado! Surpresas ao longo do vídeo não acabam. Tome como partida disso a descoberta da mudança radical de estilo na volta pós turnê internacional, o lado B da banda desencravando-se com a dor do pecado de ser um rock star exposto ao mundo dos vícios e tormentos, uma balada contra a hipocrisia vinha devagar e crescendo como um Tetsuo no final da saga Akira.



Titãs! A vida até parece uma festa.


Minha visão do documentário para Mondo Bacana

A semelhança com Touring dos Ramones no video clipe onde mostram suas viagens em turnê. A parceria emocionante do Rei Roberto Carlos mostrando que o rock pesado não era tão duro assim. Um novo mundo abrindo-se a cada descoberta para os Titãs incansáveis do rock. Em 32 dentes mais uma surpresa que faz-nos entender bem a origem da letra e sua velada discussão sobre talento e reconhecimento social nas massas. Uma parceria muito bonita, um momento glorioso. Em "Polícia" os Titãs dão vazão ao ódio quase sarcástico de uma época recheada de drogas e nervosismo. E depois, a poesia volta misturada à vida de cada um deles, muito bem retratada em detalhes, ora triviais, ora relamente conturbado e reveladores. A insanidade de Antunes crescendo abertamente em letras e movimentos já mostrando o que poderia ser sua carreira pós Titãs, hoje tão respeitado como músico, escritor, artista e poeta.

Dos vários formatos arquivados por Branco e sua troupe desde VHS até mini-dvs, sentimos uma evolução humana acontecendo, na forma, no requinte, no tirar, no colocar elementos. No conseguir manter-se vivos mesmo depois de mudanças. Juntos, abertos e conscientes apesar dos momentos de incosciência, de fuga e de conflitos pessoais. A saída de Antunes, de Gavin, a morte de Fromer. Família, filhos, alegrias e desesperos.

Uma avalanche em detalhes, como o cabelo de Branco influenciado por Jesus and Mary Chain e a primeira gravação de bichos escrotos me fizeram relembrar porque eu gostava de assistir o chacrinha aos 11 anos e ir às festinhas americanas sempre com um disco do Titãs embaixo do braçø.Imperdível aos amantes do rock brasileiro que curtem viajar pelos detalhes da história e gloria dos seus astros maiores.

Karen Tortato