Construí este gato fura-olho pra arrebentar as minhas vísceras quando estiver perto do dia fatídico de minha morte. Será depois das eleições. Tudo planejado. Morrerei lentamente e com dor, de forma apaixonada como nunca previa, de forma eloquente e com muito vermelho, rosas serão espalhadas em volta de mim, gérberas laranjadas e muitas folhas de eucalipto no banheiro pra disfarçar o odor de podre quando você entrar. Meu garçon verde me comprou o disco que eu queria ouvir na noite do velório. Me alegrou a noite e aos prantos me cobriu o corpo com velas. Estava quase morrendo quando ele veio naquela noite e viu a faca no meu peito pela metade. Como é um cavalheiro, forçou a faca até o fim, até sentir as costelas se abrindo e o peso macio da navalha bem perto do meu coração. Meu coração, enganou-se ele, era duro como pedra e a faca quebrou, deixou estilhaços de bomba em meu vazio... Agora eu deixo que a morte venha me buscar e minha carne cada dia parece mais branca, mais límpida das impurezas que pela terceira vez (3 reis magos, 3 patetas, pai, filho, espírito santo, amém) aquele dia, naquele ponto de ônibus você esqueceu minhas impurezas...
Lembrou-me aquela primavera linda numa praia já esquecida ouvindo Smothered in Hugs o dia todo e rodando feito bailarina quando eu sozinha podia contemplar o mar e não pensar em nada.
Lembrou-me uma cidade de gatos perdida no fundo do mar, arrastada pelas ondas e desenbrulhada em papel rico japonês. Me lembrou a onda de Hokusai. As tristezas, me lembrou que podemos chorar, sim. Gato verdinho que eu fiz pra desembrulhar os pecados passados.
Ajoelhar sobre sua cruz, jamais... Bons tempos, ventos, eu to sempre me reconstruindo!
Lembrou-me aquela primavera linda numa praia já esquecida ouvindo Smothered in Hugs o dia todo e rodando feito bailarina quando eu sozinha podia contemplar o mar e não pensar em nada.
Lembrou-me uma cidade de gatos perdida no fundo do mar, arrastada pelas ondas e desenbrulhada em papel rico japonês. Me lembrou a onda de Hokusai. As tristezas, me lembrou que podemos chorar, sim. Gato verdinho que eu fiz pra desembrulhar os pecados passados.
Ajoelhar sobre sua cruz, jamais... Bons tempos, ventos, eu to sempre me reconstruindo!
Suzanne Vegas
que morreu Carninha e nasceu Karen Mônica
a filha da vó de vestido de jersey estampado
que saiu em um ônibus pra Joinville....
2 comentários:
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